|
Sábado, 31 de março de 2001
|
|
|
|
Entre o caos e a ordem
|
|
|
Excelente obra de divulgação científica, Complexidade
e Caos reúne artigos de 18 cientistas nacionais e estrangeiros sobre os
sistemas complexos no universo
|
|
Reprodução
Moysés Nussenzveig: seu texto é uma abrangente e elucidativa chave para conhecermos o que se entende por sistemas complexos
|
|
|
Por Marcos Bragato
No pensamento newtoniano o universo foi definido como um sistema
harmonioso, de leis rígidas regidas como uma máquina (como afirmam os
físicos, a mecânica newtoniana funciona quando há dois corpos se
interagindo). Com a revolução Eletromagnetismo (James Maxwell 1831-1879) e
da Termodinâmica (Ludwig Boltzmann 1844-1906), esse determinismo é rompido
(no final do século 19) e se completa com a introdução do tema da
impossibilidade de predições, mesmo que todo o sistema esteja movido por
leis deterministas.
Antes mesmo da Relatividade e da Mecânica Quântica (que completam o
quebra-cabeça), o físico e matemático francês Henri J. Poincaré (1854-1912)
encontrou Caos - sistemas que tem comportamento sensível às condições
iniciais - onde a física clássica ignorou a existência da Complexidade dos
Sistemas abertos. Em linhas gerais, ignorava-se a existência de Atratores,
que são o resultado da grande sensibilidade à maneira como qualquer sistema
tem sua história iniciada.
Relojoeiro cego Uma nova disciplina nascia, carregando uma lista rica de subtemas,
responsável pelo fenomenal arranque dialógico entre diferentes áreas
científicas: física, matemática, biologia, neurofisiologia, com aplicações
possíveis também nas ciências sociais (como na economia e na antropologia).
Esta é a direção do livro Complexidade e Caos (ganhador do Prêmio Jabuti de
melhor livro de ciências exatas), consistente resultado editorial de uma
série de conferências ocorridas no Fórum de Ciência e Cultura a Coordenação
do Programa de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
São 18 artigos com graus diferenciados de leitura, entre a divulgação
científica e textos dirigidos a um público mais especializado. A introdução
do físico H. Moysés Nussenzveig é o exemplo da conjugação das duas medidas.
O artigo é uma abrangente e elucidativa chave para conhecermos o que virá a
seguir. Do que se entende como sistemas complexos, o alvo para sua
caracterização são os chamados sistemas adaptativos que se situam na zona
intermediária entre o caos e a ordem. A introdução nos remete às
características de sistemas como cérebro, a problemas dos sistemas
auto-organizados e as relações entre sistemas não-lineares, ordem e caos.
Afinal, caos não é um fenômeno no qual a ordem está ausente. Ao contrário,
percebe-se um fluxo intercambiante entre a existência do caos na ordem e da
ordem no caos. Reproduzimos aqui a síntese dos três tipos de comportamento
proposta por Nussenzveig: 1. Ordem - a evolução é inteiramente previsível,
regular como um relógio; 2. Caos - o sistema muda o tempo todo (a
irregularidade é completa); 3. Criticalidade auto-organizada - um sistema
complexo adaptativo nessa situação também está em evolução constante, mas,
quanto mais muda, mais se torna diferente, como acontece com um ser vivo (a
evolução funcionaria como um relojoeiro cego).
Entre os autores, dois estrangeiros - John Holland (o criador dos algoritmos
genéticos que imitam nos computadores o processo biológico) e W. H. Zurek
(que resenha sobre a entropia e a aleatoriedade). Vale citar o bloco de
subtemas tratados no âmbito da biologia: o da evolução (Francisco Salzano),
diferenciação celular (Radovan Borojevic), proteínas (Sérgio Ferreira) e
memória (Ivan Izquierdo), e dois debates sobre a origem da vida (Otto R.
Gottlieb e Maria R. de M. B. Borin, e Adalberto Vieyra, Fernando de
Souza-Barros e Ricardo Ferreira). Dada a impossibilidade de comentarmos cada
um dos artigos, só nos resta sugerir a leitura desta que é, desde já, uma
obra de referência na divulgação científica nacional.
COMPLEXIDADE E CAOS, organizado por H. Moysés Nussenzveig. UFRJ, 280 págs, R$ 28,00.
|
|
|